[Resenha] Além do Que Se Vê – Sheila Guedes

Oi, gente! Tudo bem com vocês? Mais um dia por aqui e dessa vez é para trazer uma resenha de um livro que eu AMEI DEMAIS e aborda um tema bem importante e que deveria mesmo ser falado mais, porque mesmo que doloroso, ele é extremamente atual e real.

O livro é o novo lançamento da Sheila Guedes, parceira aqui do Diversamente, Além Do Que Se Vê (ADQSV).

Em Além Do Que Vê já iniciamos com um prologo totalmente arrematador: conheceremos a história de Kalina, que foi vítima do tráfico humano e teve sua vida roubada pelo seu algoz.

Kalina é um jovem de 20 anos que sempre foi muito tímida, tendo como sua companheira sua única amiga, Vitória. Vinda de uma família muito humilde e batalhadora, Kalina tem o sonho de ir atrás de um futuro melhor e por isso se dedica tanto para poder ingressar na faculdade. Por insistência de Vitória, ela decide curtir, pela primeira vez, o Carnaval, acreditando que seria só uma recordação incrível da vida delas.

Sem poder imaginar, Vitória e Kalina e envolvem com dois espanhóis, que se fingem de bons moços, mas que na verdades são grandes criminosos. Kalina tem seu caso de um dia encerrado no carnaval, enquanto sua amiga permanece com Juan Carlo durante algum tempo, até que ele o convence a ir para Espanha em busca de um futuro melhor.

Depois que Vitória parte, para que Kalina é questão de alguns meses para que Kalina também vá e chegando lá ela descobre que foi profundamente enganada, e não somente ela, mas como sua melhor amiga também. Sem saber onde Vitória está e o que acontecerá com sua vida a partir de agora, Kalina não vê muitas saídas, mas sabe que não pode desistir. Ela lutará por sua liberdade, enxergando possibilidade além do possível.

“Jamais conseguirei escapar de quem sou agora. O meu passado me aprisiona. E a falta de perspectiva de um futuro me traz, mais uma vez, a sensação de finitude que me acompanha diariamente.”

Além Do Que Se Vê é um livro sobre esperança e o poder de se recomeçar. Eu nunca tinha lido nenhum livro com a temática de Tráfico Humano e foi um grande choque encarar essa realidade, ainda que de forma fictícia, porque é simplesmente desesperador você se vê em uma posição de impotência com seu próprio corpo e vontades. Foi uma leitura que mesmo que tenha sido feita em um dia, em muitos momentos precisei descansar um pouco e tentar me acalmar.

“A vida está aí para ensinar a todos nós que dias ruins sempre vão existir e que coisas ruins podem acontecer. O que não podemos esquecer, jamais, é que mesmo que a noite esteja completamente escura, o sol sempre vai nascer. Sempre. Às vezes, tudo o que temos que fazer é ter calma e esperar. Não tem escuridão que vença a luz.”

Kalina vê seus sonhos sendo despedaçados a medida que o tempo avança e ela não consegue encontrar saídas, mas é encorajador vê o quanto ela acredita que encontrará uma forma de se reerguer e quando isso acontece, é inspirador ler a forma que ela tenta se reconstruir de pouquinho em pouquinho.

“Não existem contos de fada. Oportunidades mirabolantes. Não existe felicidade sem luta, sem conquista. Escolher atalhos como a Vitória fez, para escapar da pobreza, é o pior erro que alguém pode cometer.”

O livro conta com um romance na história, mas com certeza o foco é na jornada de Kalina e foi, juro a vocês, muito lindo de ver e de aquecer o coração também. Esse é daqueles livros que a gente termina e fica com ele ainda na cabeça pensando em tudo que foi dito ali.

“Somos vítimas de um crime hediondo, porque não nos roubaram apenas nossa liberdade e nossas escolhas. Não violaram apenas nossos corpos. Roubaram de nós também a vontade de seguir adiante.”

Gostei muito mesmo dessa leitura, mas leiam aviso que as cenas descritas enquanto a Kalina era uma escrava podem trazer gatilhos, então leiam com calma e cuidado.

O livro se encontra disponível no Kindle Unlimeted.

“Eu lutei para ser quem sou. E me orgulho muito disso. Não foi fácil entender que eu poderia sim superar, mesmo que jamais esqueça. Mesmo que meu corpo ainda se contraia de dor quando as lembranças vêm sem aviso. Mesmo que tenha me sentido suja durante muito tempo. Mesmo quando fingi não ser eu enquanto um estranho qualquer violava meu corpo. O tempo todo eu sabia. Sabia que pagaria essa conta uma hora ou outra se eu não virasse o jogo. Não o jogo contra o tráfico. Esse é circunstancial. A virada mesmo acontece quando nos olhamos no espelho. Quando perdemos o medo de olhar dentro dos nossos olhos”

“Não sinto vergonha de quem fui. Não sinto vergonha da minha história. Tudo que me aconteceu serviu para me mostrar e ensinar, que somos frutos de tudo que nos acontece; e cabe a cada um nós, tirar as lições que a vida dá e aprender a se reinventar a cada dia em busca da paz interior e da certeza de que estamos sempre evoluindo e, principalmente, que nada nos limita a não sermos nós mesmos.”